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Pensar Orgânico é um projeto apoiado pelo "Movimento pela Vida" Dr. Rath.

Plantar é um ato natural para qualquer ser vivo saudável.

No meio natural os animais fazem isso simplesmente comendo e obrando, semeando a terra com seus dejetos. Parece grosseiro, mas funciona. Pimenta Cumari, dizem os antigos, só nasce onde obra o passarinho que comeu Cumari com suas sementes. Araticum, fruto do cerrado, só nasce se passar pelo trato intestinal do lobo guará, é uma característica específica dessa planta, desse animal e desse bioma brasileiro.

E foi dessa forma simples que a "Terra" manteve durante eras grande parte do equilíbrio que sustenta: os animais comem o que a natureza oferece e depois devolvem ao solo as sementes. O planeta faz todo o resto fornecendo oxigênio, água e oligoelementos para manter os biomas funcionando. 

Agora observe o ser humano. Não obramos mais na terra por uma questão de conforto, mas somos incapazes de comer uma fruta, separar as sementes e jogá-las no solo. Digo apenas jogá-las em um pedaço de solo qualquer, não estou falando de plantar, apenas jogar na terra... Não conseguimos. Deitamos todas as sementes do que comemos no lixo, e elas jamais vão germinar ali.

Neste mesmo compasso, cada vez mais, boa parte do que comemos não tem mais sementes ou tem sementes que não germinam, isso por conta de processos híbridos e transgênicos. E as pessoas parecem gostar quando surgem "novas frutas" sem sementes, compelidas pela pressa de buscar o caminho da "maior facilidade possível", afinal, fruta sem semente é mais fácil de comer, pensamento predominante mesmo quando isso envolve a esterilidade das espécies. Limão Taiti, por exemplo, não tem semente, é uma fruta estéril criada pelo ser humano. Do ponto de vista biológico ele é completamente inútil para a perpetuação dos biomas. O mesmo pode ser dito do milho híbrido cujas sementes não germinam nunca.

Perceba que além de não semearmos também estamos criando dentro de nosso processo civilizatório alimentos sem capacidade reprodutiva, estéreis. Ao mesmo tempo reduzimos cada vez mais os espaços naturais e junto com eles a fauna que semeia. Por fim, além de tudo, prendemos passarinhos em gaiolas (os maiores entre todos os semeadores naturais) porque alguns de nós acham bonito vê-los cantar em sua pequena prisão.

O que acho irônico nisso tudo é que nos auto classificamos como seres sencientes (que tem percepções conscientes do que acontece e do que nos rodeia) e inteligentes (faculdade intelectual de conhecer, compreender, raciocinar, pensar e interpretar). O sarcasmo é o toque final de nosso bio-etnocentrismo quando afirmamos que nossa senciência e nossa inteligência são as principais distinções entre nós (seres humanos) e os outros animais...

Devo concordar com essa última afirmação. De fato, nos distinguimos dos animais porque enquanto eles vivem no presente agindo pela manutenção da vida do planeta, nós seres humanos (palavra derivada do latim "humus", referente ao que foi formado por elementos da terra e que à terra voltará) vivemos mil sonhos sobre como será nossa existência depois que morrermos e formos "lá para o céu", porque ao contrário dos animais que vivem para o aquém, nós vivemos para o além. A espiritualidade certamente é um dos pilares da existência humana e pensar no que vai acontecer conosco depois da morte é parte da maioria das sendas. Mas um caminho espiritual que propõe o completo desinteresse pela manutenção da vida no planeta, ao ponto de fazer o caminhante acreditar que ele não tem responsabilidade alguma sobre sua pegada ecológica (o rastro individual de vida ou destruição que cada pessoa deixa em sua passagem pelo mundo), é um caminho que desconsidera as leis da ação e reação, do semear e colher e do próprio sentimento de gratidão. 

 

Enquanto predomina o pensamento pueril da busca por uma vida melhor no além sem maiores responsabilidade no aquém, morre a água, o solo e a biodiversidade do planeta, contaminados pelos resíduos tóxicos de nossas invenções egoístas e pela loucura de nossa cobiça, orgulho e vaidade (vide AQUI a quantidade absurda de agrotóxicos presentes na água tratada de todos os municípios brasileiros).

Diante dessa percepção pessoal pareceu-me importante buscar reconexão com os processos naturais. Decidi voltar a semear. Para isso passei cerca de duas décadas estudando a agroecologia de Ana Primavesi, a agricultura orgânica da AAO, a agrofloresta sintrópica de Ernst Götsch's e o plantio natural de Masanobu Fukuoka, aprendendo tudo o que podia sobre métodos de agricultura natural. Parte do conhecimento que adquiri está disponível gratuitamente neste site para quem desejar apreender. Este é o meu ato revolucionário.

Aos companheiros de jornada e aos que dividem a mesma visão sobre o panorama global e, ainda, aos que virão depois de nós, a mensagem continua sendo de esperança, mesmo diante de um cenário nebuloso. Isso porque acredito que a realidade pode ser mudada de dentro para fora, sendo possível viver melhor e expressar nossa melhor versão mesmo em situações adversas. 

Façamos cada um de nós o nosso papel, o melhor que pudermos. A Natureza e o Cosmos, o Tempo e a Fonte de Toda Inteligência, Luz das Luzes, farão o deles. Ao resumo tudo estará certo.

Aos que chegam agora a esse conturbado momento planetário, não se deixem intimidar pela energia do medo e obscuridade que desde a mais tenra idade até a velhice obsidiam a todos os viventes. Parte do aprendizado é justamente não se deixar enredar por ele, mantendo acesa a chama ardente que nos fez chegar até aqui. Identificar-se com o medo e com as circunstâncias passageiras que assolam esse presente seria o equivalente a viver no inferno.

Saber que tudo isso é apenas um aprendizado, que cada pequena intenção de amor, cada palavra de apoio, gesto de solidariedade, pensamento de liberdade e ação sustentável equivalem a várias sementes plantadas que darão frutos conforme sua natureza, é o equivalente a ser um pássaro livre, é viver no paraíso.

Sobre os usurpadores, os que são cruéis, os que vencem pelo poder do dinheiro e da guerra, que nos sirvam de lição para aprendermos o que não desejamos nos tornar, considerando ainda que nós mesmos já fomos pequenos tiranos algum dia. Concentremos nossos esforços em sermos o bem que desejamos ver no mundo. 

Abraços a todos,
Marcos Paulo

Pantanal/Cerrado, fevereiro de 2020.

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