Educação sobre Saúde Natural - Autonomia Produtiva
Horta Escolar Orgânica e Agricultura Sustentável de alto valor Nutricional.
Diário de uma Horta Agroecológica e Orgânica
Um passarinho quando obra esta plantando. Ao final de sua vida olha para trás e vê florestas. O ser humano, atualmente, obra na água, joga a semente no lixo e ainda prende passarinho. Ao final de sua vida olha para trás e vê as cinzas das florestas que ele mesmo exterminou.
Não me lembro bem como foi que se deu isso de me interessar com tanta paixão pela agricultura natural. Acho que começou depois de ler "Primavera Silenciosa", de Rachel Carlson. Foi aí que a percepção de que ingerimos veneno todos os dias de forma silenciosa começou a ficar clara em mim. Perguntei-me então se não seria essa a causa de tanto desequilíbrio no século XXI, de que estamos ficando doentes de corpo e mente por causa do veneno na água, no solo, no ar e no alimento que comemos diariamente.
Filmes como "O veneno está na mesa" aguçaram ainda mais minha curiosidade, eu queria mesmo saber se aquilo tudo era verdade. Mais tarde, estudando o trabalho do Dr. Matthias Rath tive a comprovação de que o problema era real, de que as doenças se estabelecem em função do que ingerimos ou deixamos de ingereir. Recentemente, depois de averiguar os dados do Sisagua descobri que a água tratada da maioria dos municípios brasileiros está contaminada com dezenas de agrotóxicos, segundo as leituras realizadas entre 2014 e 2017. Somente na cidade de Coxim, bioma pantanal/cerrado, foram constatados 27 tipos de agrotóxicos na água fornecida a população.
Pensei em lutar contra tudo isso mas senti-me impotente. Como falar sobre este assunto sem parecer um defensor de teorias da conspiração?
Foi então que tive a ideia de, ao invés de lutar contra o que eu não concordo, trabalhar a favor do que penso ser uma solução.
Logo abaixo você poderá ler o diário de nossa horta (que conta a História de uma de nossas hortas orgânicas feitas ao longo do tempo), porque na verdade faço hortas pra gente, pra todo mundo que gosta de verduras do jeito mais natural possível e com alto teor nutricional. É por essa razão que partilho conhecimento gratuitamente com qualquer pessoa que demonstre respeito pela natureza e interesse pelo assunto.
No primeiro semestre de 2020 contratei uma consultoria do SEBRAE para fazer um plano de negócios para famílias que desejam ter hortas sustentáveis do ponto de vista econômico, de forma que possam prosperar e multiplicar seus frutos.
A seguir um passo a passo que pode servir de guia para quem está iniciando a formação de uma pequena horta escolar ou comunitária, de forma sustentável, agroecológica, orgânica e, financeiramente rentável.
Diário de uma Horta
Esse terreno da foto é o local onde fizemos a primeira horta orgânica do município de Coxim, bioma pantanal/cerrado, anexa a AAAT (Associação de Agentes Ambientais do Taquari), responsável pela reciclagem de resíduos sólidos da cidade.
O local era aterro de saibro compactado. Terra nada propícia para agricultura.
Veja nas fotos abaixo o resultado que obtivemos em cerca de 3 meses de trabalho.
Rocio, demarcação e encanteiramento
O passo a passo foi mais ou menos o seguinte:
1 - Roçar todo o mato mantendo a palha no local. Isso é muito importante. Mesmo que você não for fazer os canteiros no mesmo dia mantenha a palha cobrindo o solo para manter viva a fauna que existe (micro, meso e macro fauna do solo). É a vida no solo que possibilita a agricultura orgânica e agroecológica. Se deixar a terra descoberta o sol mata tudo, tornando mais difícil o trabalho de recuperação depois.
2 - Demarcação dos canteiros. Nessa etapa é bom planejar a orientação fazendo os canteiros sentido norte/sul ou leste/oeste. Tudo vai depender das condições do local. Nossa opção foi leste/oeste por causa do barracão que faz sombra na lateral na parte da tarde. Com este sentido tivemos melhor aproveitamento da energia solar. Hortaliça é exigente em sol e portanto o ideal são 8 horas por dia. A dica é observar seu desenvolvimento. Se ela começar a estiolar (a planta começa a afinar o caule e crescer demais procurando por sol) você vai saber que está faltando energia solar.
3 - Depois o encanteiramento.
Nas fotos detalhe da composição dos canteiros.
Como o solo do lugar era saibro compactado fizemos o seguinte: Depois do rocio e da demarcação afofamos a terra cerca de 20 cm com enxadão. Fizemos em dia de chuva para facilitar o serviço.
Sobre estes 20 cm afofados colocamos terra preta que compramos da região. Esta terra preta foi molhada e destorrada na mão. Depois disso colocamos esterco curtido e estabilizado que foi incorporado a terra preta, cerca de 30 litros de esterco por metro quadrado. Fizemos isso porque a terra preta pura vai compactando com o tempo impedindo o desenvolvimento das raízes. O esterco serve, entre outras coisas, para deixar a terra fofa.
Mais tarde, quando fiz a primeira reforma dos canteiros incorporei 50% de terra arenosa, para tornar o solo mais permeável. Nesse ponto a conclusão final é de que a terra preta sozinha, sendo argilosa, compacta com o tempo. O ideal é uma mistura equilibrada de terra preta com terra arenosa e muita biomassa.
Depois do esterco aplicamos cerca de 100 gr por metro quadrado de pó de rocha (rico em minerais) e 100 gr de calcário dolomítico (especificamente rico em cálcio e magnésio). Essa mistura foi incorporada superficialmente no solo. Adicionamos por cima um punhado de cinza de fogão de lenha, substrato de floresta (aquela terrinha que fica em cima do solo por baixo da camada de folhas da floresta) e húmus de minhoca. Ao final cobrimos os canteiros com palha de capim humidícula (que tinhamos a disposição na área ao lado). Daí regamos e deixamos descansar por alguns dias.
Depois veio o plantio das mudas e sementes.
As primeiras bandejas de mudas compramos no Ceasa de Campo Grande. Depois passamos a produzir nossas mudas na pequena estufa que fizemos na horta.
As sementes preferimos da Isla, pois ela tem uma linha livre de transgênicos e livre de agrotóxicos. É o mínimo que devemos respeitar na hora de plantar de forma agroecológica. Também cultivamos sementes na horta, deixando algumas hortaliças cumprirem seus ciclos completos. Colhemos, secamos a sombra e armazenamos as sementes.
Com relação ao transplante das mudas os cuidados que se deve ter são os seguintes:
1 - Tentar entender se as mudas são novas. Quando fazemos as mudas conseguimos calcular esse tempo e fazer o transplante com cerca de 15 dias depois delas nascerem. Marcando as datas em palitos de madeira na cabeceira dos canteiros é possível saber a data certa das colheitas.
2 - Cuidar para que as raízes não fiquem enroladas na hora do plantio. O sentido da raiz da mudinha tem que ser para baixo.
3 - Plantar a tardezinha e irrigar. Quanto ao sol as mudas vão resistir se os canteiros forem feitos da forma correta com relação à cobertura do solo com palha, pois isso evita que as raízes aqueçam segurando umidade no solo. Com mudas novas é bom irrigar 3 vezes por dia: as 07:00, as 11:00 e depois das 15:00. Plantas já desenvolvidas merecem rega 2 vezes por dia. Mas tudo vai depender das condições do clima. Em nossa experiência não foi preciso cobrir a horta com sombrite (novamente uma vantagem de quem faz cobertura com palha no solo...).
4 - Com relação aos ciclos lunares gostamos de observar o calendário da agricultura biodinâmica, uma ciência que vem evoluindo com o tempo. Não é uma obrigação, mas pode ajudar a compreender melhor as influências da lua.
5 - Ainda sobre as sementes a dica é a profundidade de plantio. Existe uma profundidade correta para a germinação e depois para o ponto vegetativo da planta. Respeitando isso ela desenvolve melhor. Basta seguir a recomendação do fabricante, geralmente consta no verso da embalagem da semente. Outra coisa é cobrir as sementes com uma terra mais arenosa, isso facilita o surgimento do broto. Terra preta, por ser muito argilosa, cria mais resistência para a germinação. Faz a covinha ou alinha onde vai semear, semeia e depois cobre com uma camada fina de solo arenosos peneirado e bem fininho.
Irrigação
Sobre a irrigação utilizamos água tratada da rua, o que tem prós e contras. A favor o fato de uma água sem coliformes fecais. Contra o fato do custo ser muito alto (certa vez perdi uma horta porque não consegui pagar conta de água da rua) e o problema do cloro se você for usar ME (Microorganismos eficientes, sobre os quais falarei mais adiante quando entrar no tópico sobre fertilização agroecológica).
Para contornar o problema do cloro eu irrigo tempo depois que a caixa encheu, para que a carga de cloro se dissipe em sua maior quantidade.
Se você tiver poço e fizer uma análise, provavelmente terá uma água mais adequada para sua irrigação. Mas o importante é trabalhar como o que você tem se adequando as situações. Agrotóxico na água tratada da rua? Tem.
Irrigação com Santeno vertical
E como fica a certificação orgânica? A resposta é um absurdo, mas não encontro outra: Hoje tem veneno, hormônio e resquício de remédios químicos em tudo, no esterco que você busca no pasto, na cama de frango da fazenda, na palha da grama que seu vizinho cortou, na água tratada da sua cidade, no pãozinho e no café da manhã. Você faz o melhor que puder com toda honestidade. Quando for tentar a certificação explica tudo antes para o consultor. Se disserem que não dá, paciência, você fez o que estava ao seu alcance. Nesse caso, de haver resíduos químicos secundários, ou seja, que não vem do seu manejo mas das fontes que abastecem sua horta como a própria água tratada da cidade, ao invés de fazer a certificação orgânica pense no manejo agroecológico, principalmente se for em zona urbana como era nossa horta, onde realmente não há o que fazer. Venda a produção como agroecologia urbana enfatizando suas qualidades e mostrando que o gargalo que impede a produção orgânica só pode ser vencido com a força da opinião pública.
Com relação ao sistema de irrigação existem vários. Por questão de custo mais baixo optei pela mangueira microperfurada vertical da Santeno, que manda o jato para cima ligeiramente inclinado. Atente para isso antes de comprar a sua pois existem outras opções com angulações que mandam muito para o lado e não vai irrigar corretamente. Utilizei a caída de cerca de 4 metros da caixa d'água e conduzi tudo por uma única linha de 3/4 de mangueira preta dessa comum. A distribuição fiz com "T" plástico de encaixe para mangueira preta. A conexão da Santeno com a mangueira preta fiz com fita isolante e uma braçadeira.
Se utilizar água de poço é bom deixar no final de cada linha de canteiro, na ponta da mangueira santeno, uma conexão que você possa abrir caso a mangueira entupa com o tempo. Isso pode acontecer caso sua água tenha argila, por exemplo. A argila vai entupir os micro furos da mangueira. Daí você abre essa conexão de escape deixando a água passar livremente. Isso vai ajudar a desentupir a mangueira.
Com relação a quantidade de água você tem que tomar cuidado para não irrigar demais pois vários problemas podem acontecer com suas hortaliças, tais como: surgimento de doenças, encharcamento do solo, apodrecimento das raízes e compactação da terra. Na compactação o solo abaixo do canteiro vai ficando duro e formando uma laje que impede o desenvolvimento das raízes, isso acontece por causa do excesso de água principalmente se a terra do seu canteiro for argilosa, como é o caso da terra preta.
Antigamente, quando a irrigação não era tão acessível como hoje o velho e bom regador era a medida certa. Você pode começar com ele pois vai atender com eficiência a sua necessidade, apenas que vai dar mais trabalho. Se partir direto para a irrigação comece irrigando de manhã e de tarde. No outro dia enfie os dedos no canteiro atravessando a palha e perfurando o solo, tentando entender até que ponto a água está chegando. O ideal é que a terra esteja úmida (não encharcada) numa profundidade de cerca de 15 a 20 centímetros. Essa base vai lhe ajudar a encontrar o ponto ideal de sua irrigação.
Você vai notar também que a terra pode manter-se úmida durante mais de 3 dias mesmo sem irrigação, isso porque a palha de cobertura retém a umidade. Mas daí tem, por exemplo, a questão de ter que irrigar mesmo assim por causa das mudinhas novas que estão sob sol forte. O controle do tempo de irrigação vai ajustando tudo isso. A prática vai trazer o ponto correto. O importante é saber o que você está tentando ajustar...
Caldas para Controle Biológico de insetos
Existem dezenas de receitas para controlar os insetos, a gente chega até a ficar confuso. Para evitar isso é bom compreender primeiro qual é o papel dos insetos na natureza.
Os insetos são uma espécie de fiscais da natureza. Eles passeiam em todo lugar procurando por algo específico: plantas estressadas e doentes. Quando acham uma planta nestas condições eles cumprem o papel deles que é eliminar aquilo que está fraco na natureza.
Então, a regra de ouro para evitar ter que fazer e aplicar um monte de caldas é cuidar para que suas plantas não fiquem stressadas e doentes por falta de correta nutrição. Os insetos não atacam plantas bem nutridas e saudáveis. Vou dar um exemplo prático que aconteceu comigo:
Nossa horta está cercada de todos os lados por grandes formigueiros de saúva cortadeira e quenquém. Elas moram nas matas que circundam nosso terreno. Curiosamente as formigas saem a noite, atravessam a horta e vão do outro lado cortar um pé de acerola. No caminho passam por cima e pelas laterias de canteiros com couve, alface e outras hortaliças sem tocar em nada. Porque elas não cortam nos canteiros que estão mais perto dos formigueiros e vão cortar o pé de acerola que fica mais longe? Porque as hortaliças dos canteiros não estão estressadas e o pé de acerola sim. Este pé de acerola está sem irrigação, sem adubo e já com alguma idade. Está desnutrido e hidricamente estressado. As hortaliças dos canteiros estão bem nutridas, provavelmente produzindo proteínas. Doentio como está o pé de acerola excreta enzimas que atraem as formigas, então elas vão lá corrigir o problema. Sabe-se que os fungos que as formigas cultivam no formigueiro não gostam de folhas que contém proteína. Então, se a formiga cortar um pouco das hortaliças bem nutridas dos nossos canteiros e levar para o formigueiro o fungo vai refugar por causa da presença de proteína nas folhas. A formiga então não vai cortar as hortaliças sadias, vai cortar a acerola que está mal. A formiga, portanto, não corta tudo que vê pela frente. Corta apenas o que está doente ou em fim de ciclo ou erroneamente plantado, quero dizer com isso fora das condições naturais do bioma em que está inserida a planta. Simples assim. Quer outro exemplo?
Uma noite as cortadeiras atravessaram 1 canteiro de alface e um de cheiro verde para cortar a mostarda do 3 canteiro. Com muita paciência fui observar o trabalho das formigas para entender porque elas estavam manejando a mostarda. Havia um plantio muito adensado (vários pés juntos) e as folhas estavam amarelando de baixo para cima, num sinal claro de falta de nutrientes. Imediatamente raleei e adubei as mostardas com adubo líquido que tem resposta mais rápida. Conclusão, na outra noite as formigas pararam de cortar a mostarda porque eliminei o stress das plantas.
Outro exemplo com a formiga cortadeira, que é um dos insetos mais difíceis de lidar para a maioria dos agricultores. As formigas atacaram meus pés de milho crioulo picando todas as folhas. Fiquei triste porque perdi mais de 70% da produção. Mas vamos tentar entender porque isso aconteceu. Num determinado momento resolvi ampliar a horta fazendo mais 10 canteiros. Ocorre que para fazer os canteiros novos rocei uma área de mato onde as formigas pastejavam. Fiz isso de uma só vez. De um dia para outro as formigas perderam o pasto com a qual estavam acostumadas e tiveram que pastejar em outro lugar para suprir a necessidade delas. Atacaram então o milho, que era a cultura com maior quantidade de folhas e que, provavelmente, não produzia proteínas pela falta de nutrientes específicos que eu não sei quais são pois não sei cultivar milho com eficiência. Nunca estudei essa cultura. Disso tudo compreendi que se eu tivesse feito os canteiros progressivamente, sem eliminar completamente o pasto das formigas, teria preservado o milho. Passei então a irrigar os pés de milho com adubo líquido que produzo na horta. As formigas pouco a pouco pararam de cortar os pés, mas já era tarde, havia perdido cerca de 70% da produção. Porém, se eu pensar matematicamente, de fevereiro a julho de 2020, as formigas comprometeram apenas a produção do milho. Não mexeram nas outras culturas. Colhi satisfatoriamente cheiro verde, alfaces, brócolis, couve, mostarda, rabanete, agrião, rúcula, pepino, tomate cereja, girassol, pimentão, acelga, almeirão, manjerico italiano e algumas pancs. De cerca de 20 culturas apenas uma foi atacada, ou seja, perdi para os insetos cerca de 5%. É muito pouco... Não vejo problema algum em contabilizar dessa maneira. Ao final os insetos são meus instrutores pois onde eles manejam sempre há uma causa, geralmente algo que estou fazendo errado, uma valiosa lição que preciso aprender.
Contudo, existem sim algumas caldas que você pode utilizar para passar nas suas plantas enquanto você não aprende a equilibrar seu sistema.
Extrato alcoólico de neem, mamona e pimenta de macaco:
Numa garrafa de 2 litros coloque uns 500 gr de folhas frescas picadas de neem, noutra garrafa a mesma quantidade de folhas frescas de mamona e em outra folhas de pimenta de macaco (muito cuidado ao manejar as sementes de mamona, elas são venenosas principalmente se ingeridas por crianças. Acrescente 1 litro de álcool até cobrir as folhas. Agite uma vez por dia. Com 8 dias estará pronto. (Mantenha fora do alcance das crianças).
Para controlar os insetos utilize 50 ml da solução para cada 20 litros de água, pulverizando 1 vez por semana sobre as plantas.
Para melhorar a eficiência colocar 5-10 gotas de detergente para cada 20 litros de água, vai agir como agente de união fazendo a calda permanecer nas folhas.
A cada semana você utiliza um extrato diferente, por exemplo: aplica primeiro o de mamona, depois o de neem, depois o de pimenta de macaco e vai trocando assim.
Esses extratos ajudam a afugentar alguns insetos que costumam atacar as verduras. Um outro utilizado contra ácaros é a cauda sulfocáusitca, a base de enxofre e cal virgem.
Contudo, essas caldas são apenas um paliativo. Se você não proporcionar equilíbrio ao seu pequeno bioma, entregando as plantas todos os micronutrientes e condições que elas encontram na natureza, se você não cultivar a vida do solo para que ela interaja com as raízes das plantas, se você não entender que os reinos mineral, vegetal e animal estão conectados e dependem um do outro você vai cansar de passar calda, vai dizer que manejo natural não funciona e vai partir para o veneno, o espelho da ignorância.
Bio fertilizantes e Microorganismos Eficientes, o pulo do gato...
Aprendendo a fazer Bokashi com o instrutor do SEBRAE, honorável mestre Elio Kokehara.
Para equilibrar seu ambiente de forma a nutrir corretamente as plantas e evitar o ataque de insetos é necessário adotar uma adubação com micronutrientes e a fertilização viva, ou seja, fertilizantes que contenham microorganismos vivos que vão fazer trocas com a terra e com as plantas. Vou passar umas receitas básicas para quem não pode fazer análise de terra para trabalhar com nutrição de precisão.
Depois de encanteirar você pode colocar no solo os seguintes nutrientes:
Calcário dolomítico: 200g/m²
Fosfato natural (Yoorin): 100g/m²
Compostagem enriquecida: 2kg/m²
Composto Bokashi: 1kg/m²
Bokashi em pó: 100g/m²
Regar pelo menos 1 vez por semana os canteiros com solução de EM: 10 ml/1 l d'água/m²
Compostagem enriquecida:
“Materiais necessários para preparar um monte de 1m³”
700kg de resíduo vegetal (restos de folhas, plantas, frutos, capim e culturas) (70%);
300kg de esterco animal (Bovino, aves, suíno, carneiro, cavalo,...) (30%);
400litros água sem cloro (±40% dependendo da umidade no material)
Enriquecer com pelo menos 3 minerais abaixo (1kg/camada):
5kg de cinza
5kg de terra e resíduos de mata
5kg de pó d’rocha
5kg de calcário
5kg de fosfato natural ou yoorin
5kg de farinha de osso
5kg de torta de mamona
5kg de borra de café
Local para preparo: Ensolarado, plano e sem encharcamento.
Modo de Preparo:
1º Demarcar uma área quadrada e plana de 1,5m x 1,5 m;
2º Colocar a seqüência de duas camadas com:
Uma camada com restos vegetais (± 20cm) e umedecer com água sem cloro);
Uma camada com esterco animal (± 10cm) e umedecer com água sem cloro);
Opção de enriquecimento com os minerais (±1kg) de cinza, calcário, yoorin, fosfato, traços (100g) de micronutrientes;
3º Repetir a operação anterior de 4 a 5 vezes, até formar a altura do monte de 1,2 a 1,5 metros;
4º Colocar uma barra de ferro (como termômetro) com a ponta no centro do monte para controlar a temperatura, pegar na barra e se tiver muito quente revirar para oxigenar o interior do monte;
5º Revirar o monte de fora para dentro quando atingir 60 ºC ou a cada 10-15 dias;
6º Realizar de 4-5 viradas com 60-75 dias, até estabilizar (esfriar o monte)
7º Manter o monte coberto e utilizar até 6 meses depois de estabilizado.
8º Preparar um monte a cada 30 dias ou conforme a necessidade para não faltar no plantio.
Recomendação de uso como:
Adubação de plantio aplicar de 2 - 4 l/m² de canteiro ou na cova.
Adubação de cobertura aplicar de 0,5 a 2,0 l/m² de canteiro ou na cova.
Obs.: Existe uma maneira mais fácil de estabilizar esta receita através de compostagem anaeróbica. Para isso é preciso misturar todos os ingredientes e umedecer mantendo a mistura em ponto de farofa (ligeiramente úmida). Depois é necessário socar muito bem, compactando todo o monte (nesse caso deve ser mais cumprido e menos alto) de modo a não ficar oxigênio dentro da massa socada. Depois de bem compactado cubra com palha e com uma lona por cima de tudo. Fica pronto em menos de 30 dias (quando deixa de esquentar) se não ficar oxigênio no meio. O processo pode ser acelarado com uso de EM-4.
Composto Bokashi
“Materiais necessários para preparar 500 litros”
Um Bag ou pedaço de lona
300kg de palhada vários tipos, triturado
200kg de esterco animal (Bovino, aves, suíno, carneiro, cavalo,..);
5 litros de solução de EM-4 (2litros de Em-4+ 500ml de melaço+ 2,5 litros água)
80 litros água sem cloro (±50% dependendo da umidade no material)
5kg de farelo de arroz
Enriquecer com pelo menos 5 minerais abaixo:
5kg de cinza
5kg de terra e resíduos de mata
5kg de pó d’rocha
5kg de calcário
5kg de fosfato natural ou yoorin
5kg de farinha de osso
5kg de torta de mamona
5kg de borra de café
Local para armazenar: Bag deverá ficar em local fresco.
Modo de Preparo:
1º Estender a lona no chão para misturar os produtos;
2º Misturar todos os produtos sólidos até ficar bem homogêneo em uma lona;
3º Adicionar a solução EM-4 sobre os materiais sólidos e adicionar mais água (+/- 80 litros sem cloro) até a misturar até fica no ponto de paçoca (com pouca umidade);
4º Colocar em local fresco misturar e compactar (com os pés ou soquete) e continuar até o final da mistura;
5º Cobrir e colocar madeira para não voar;
7º Manter em local fresco entre 15 a 30 dias até estabilizar o processo biológico;
8º O composto bokashi está pronto para uso.
Recomendação de uso como:
Adubação de plantio aplicar de 1 a 2litrosl/m² de canteiro ou na cova.
Adubação de cobertura aplicar de 300 a 500g/m² de canteiro ou na cova.
Bokashi em Pó
Materiais para preparar 7,1 kg “KENKI BOKASHI” (Bokashi em pó)
Materiais:
1 balde de 10 litros com tampa ou um recipiente equivalente que possa ser bem tampado;
1 saco plástico resistente (ex.: saco de lixo preto de 30 litros).
Insumos: - 4,5 kg de farelo de arroz (ou trigo, soja, etc... ou ainda um mix destes)
1 kg de torta de mamona
600g de farinha de osso
500g de cinza de madeira
500g de palha de arroz ou casca de café ou borra de café
1 lt de solução EM-4 ativado
Modo de Preparo:
1º Misturar os ingredientes sólidos
2º Misturar com Em-4 até ficar bem uniforme
3º Colocar o saco plástico no balde de 10 litros
4º Colocar a mistura no saco plástico de modo a ficar bem socado
5º Preencher com uma camada sobre o saco plástico com farelo de arroz uns 3 cm
6º Tampar para ficar bem justo sem a presença do ar
Obs.: Segredo da fermentação anaeróbica esta nos itens 5º e 6º
7º Após 14-20 dias abrir e cheirar o produto, se ficar com cheiro agridoce esta pronto e utilizar no prazo máximo de 6 meses.
Recomendação uso:
Como adubação cobertura até 100g/m², quinzenal e uso no substrato(até 3%) para produção de mudas.
Solução EM-4 (inoculante)
A muda você deve capturar numa mata próxima da sua horta. Cozinhe arroz sem sal. O ponto é nem seco soltinho e nem papa. Tem que ficar um pouco úmido seu arroz. Leve na mata e coloque o arroz em cima de uma bandeja plástica rasa, tipo aquelas de bolo. Coloque a bandeja com arroz embaixo da serrapilheira da mata. Espere uma semana e recolha a bandeja com os microorganismos que capturou. Separe os coloridos, os cinzas e pretos. Fique apenas com os brancos cor de neve, eles serão sua muda.
Materiais para multiplicar a muda de EM-4”
EM-4 colhido na mata. Somente o branco que parece algodão é o ideal para usar no preparo da solução.
1 garrafa Pet limpa com tampa;
100 gr da muda de EM (pode pesar junto com o arroz) ou 200ml da solução de EM-4 se você tiver pronta.
200 ml de melaço de cana ou rapadura
Modo de Preparo:
1º Colocar a muda na garrafa;
2º Acrescentar o adoçante natural;
3º Completar com 2 litros água (de preferência de mina ou riacho limpíssimo). Não pode ter cloro senão mata o EM-4;
4º Furar a tampa para respiração do Em-4;
5º Deixar em local sombreado e fresco por 7 dias;
6º Após 7 dias está pronto o EM 4 (deve ser um líquido amarelado com cheiro adocicado e agradável);
7º Retirar 200ml de EM-4 e iniciar a nova multiplicação a cada 7 dias;
8º Utilizar o restante do EM-4 na compostagem ou nos canteiros com bastante matéria orgânica.
Recomendação uso:
- Como acelerador da compostagem aplicar até 1l/m² por camada
- Como revitalizador do solo 100ml/ 10litros água regador (regar 1litro/m²)
Ler essas receitas e tentar fazer sozinho pode ser um pouco difícil. O bom é ter um professor do lado orientando o processo. Dessa maneira a gente aprende rápido e tira todas as dúvidas. Com tempo fica muito fácil, por exemplo, fazer o bokashi e aplicar. A gente fica até pensando: como não fiz isso antes? Porque demorei tanto?
RESULTADOS DA AGROECOLOGIA ORGÂNICA
Agroecológico e Orgânico, o que estes termos significam?
Agroecológico significa que o cultivo é o mais natural possível. Na agroecologia vemos a área cultivada como uma extensão da natureza a partir de uma visão integrada: o reino animal depende do reino vegetal, o reino vegetal depende do reino mineral.
Ao praticar agroecologia pensamos na colheita e nos lucros, mas pensamos também na qualidade da água, do ar, do alimento, da vida do solo, dos elementos que compõem o reino mineral, vegetal e animal, ou seja, pensamos em como participar do todo sem menosprezar a complexidade da cadeia biológica. Em resumo, a agroecologia trabalha com fartura e prosperidade, mas não apenas para a espécie humana, outrossim para todos os seres que compõem a vida neste planeta. Se você acha esta visão romântica quero esclarecer que na nossa horta estão presentes o caracol, o pulgão, a lagarta, o grilo, os passarinhos, a formiga cortadeira e milhares de outros seres vivos. Eles fazem o papel deles, nós fazemos o nosso. Ao final, trabalhando juntos, todos comem: a terra, a água (sim, o lençol freático é nutrido naturalmente com a lixiviação do que desce de nossos canteiros), os insetos, os pássaros e os seres humanos. Do ponto de vista estritamente financeiro a perda de produção não chega nem a 5%, um índice muito menor do que a perda de quem cultiva de forma agressiva. Em todos os sentidos nossa experiência revela que a agroecologia é um modelo eficiente, próspero e moderno.
Orgânico significa que a produção segue uma método capaz de ser auditado e fiscalizado por lei, ou seja, temos regras a seguir para poder dizer que o alimento é orgânico. Isso evita que pessoas boas, mas equivocadas, plantem à sua maneira e saiam dizendo que produzem orgânicos. Evita também que pessoas mal intencionadas lesem os consumidores. O alimento orgânico precisa ter uma certificação que ateste sua conformação com a lei de orgânicos vigente no Brasil. Depois disso vem a consecução do selo de orgânico. Confesso que é um processo difícil, mas é importante. O lado bom de conseguir a certificação orgânica é o diferencial competitivo e o aprimoramento das técnicas, porque ao final você aprende muito mais.
No caso da Orgânic City contratamos uma consultoria do Sebrae para a execução de um plano de negócios visando a certificação orgânica. Fomos contemplados com a assessoria do querido professor Elio Kokehara, especialista em orgânicos, que nos passou tudo o que precisávamos saber, pelo que somos muito gratos...
Contudo não certificamos a horta. Chegamos a conclusão que os agentes externos não permitiriam, haveria em algum momento contaminação de terceiros em níveis que não poderíamos controlar nem auditar. Em nosso caso seria melhor categorizar a produção como manejo agroecológico urbano. Mas o aprendizado ficou e a compreensão de que ainda seria preciso 01 ano de manejo correto, acompanhamento de um agrônomo e anotações que vão desde a origem de cada insumo utilizado até a rastreabilidade de cada consumidor que compra nossos produtos para conseguir o selo, uma verdadeira batalha. Impossível fazer sozinho...
Existe também a possibilidade de fazer uma certificação participativa, mas para isso é necessário que outros agricultores façam a transição para a agroecologia e para a agricultura orgânica.
Diante de tantas informações penso que, aos que desejam aprender o melhor será entrar em contato com que faz, para ter um companheiro ao lado. De nossa parte temos um grande desejo de dividir conhecimento e ajudar todos os que se interessem por algo tão especial como a agricultura natural, agroecológica e orgânica.
Abraços a todos,
Marcos Paulo Carlito
m.carlito@hotmal.com
(19) 9 9696-1722
Coxim, 02/12/2020